O animismo,
o vitimismo e o fatalismo formam um triangulo dentro do qual nossa alma habita?
O animismo,
segundo a antropologia, é um tipo de crença religiosa segundo a qual objetos,
locais e todas as criaturas possuem alma e capacidade de ação. São como seres
humanos. Vivos e atuantes. A antropologia tende a analisar essas crenças como típicas
dos povos da floresta. Mas o animismo está entre nós! Teoricamente a razão
moderna teria acabado com esse tipo de pensamento mágico. Não no Brasil.... nem
na nossa politica.
Nos últimos
dois dias debates intensos se formaram dentro do Novo. “O partido é autoritário”.
“O partido é centralizador”. Sério? Pensei que esses fossem atributos de
indivíduos... não de pessoas jurídicas.
Que a
esquerda brasileira tendia ao animismo eu já havia notado. E essa tendência
aparece mesmo nas mais triviais atividades do cotidiano..... uma vez eu havia
assumido a coordenação da iniciação cientifica em uma instituição acadêmica.
Tarefa rotineira nesse mundo. Meu chefe me pediu para lançar um edital e organizar
o processo seletivo claro e transparente. Bem-mandada que sou, obedeci! Criei
uma estratégia de comunicação. Criei peças publicitárias para a divulgação. Criei
um cronograma de envio dos e-mails para que ninguém ficasse desavisado. Divulguei
a data da inscrição. Muito bem... achei que tinha feito tudo certinho..... Aí
uma colega, professora da instituição por muitos anos, ferrenha militante de
esquerda, que sempre tinha recebido uma bolsa para um aluno por semestre, não
viu. Não prestou atenção. Não achou que era para ela. Estava acostumada a estar
acima dessas coisas. Perdeu o prazo! Ao invés de pensar: Oooopssss! Errei! Comi
mosca! O que fez ela? Um email no melhor estilo “carta aberta”, acusando a
instituição de falta de respeito e consideração por professores antigos de
casa, que sempre fizeram por merecer respeito e consideração especial, e que
agora, num ato de arbítrio, foram alijados das bolsas.....
Ora, não
havia sido eu, a coordenadora do programa, que havia errado! Nem ela! Havia uma
figura mágica, chamada instituição, que, pelas costas das pessoas de carne e
osso, decide desrespeitar os outros. Ela, vítima desse monstro frio, depois de
mais de 20 anos recebendo a bolsa todos os anos, perdeu para um colega!
Pois bem! Fui
falar com ela. Como assim? Ela me disse: querida, não estou falando de você! Vi
meus e-mails. Vi que você avisou (naturalmente que não havia visto antes)! – Mas
a instituição deveria ter tido mais consideração comigo! Caraca! Pensei! A
instituição é quem, cara pálida? Foi uma maneira muito louca de tirar a
responsabilidade do próprio ombro e tentar reverter a situação a seu favor
contra todas as novas regras que haviam sido discutidas nas reuniões de
congregação! Nas quais ele tinha assento! Ao se fazer de vítima, criava um
constrangimento que emocionalmente obrigava a todos a buscar uma saída a seu
favor! Eu, que sempre fui chatinha com isso, pensei: Nem morta! Ou a regra é
igual para todos, ou saio da coordenação. Acredito em todos iguais perante as
leis e as normas. Acredito que a responsabilização individual é o caminho para
diálogos éticos. E gosto de transparência. Climão! Depois observei muito do uso
desse recurso como estratégia para o vitimismo nas campanhas politicas da
esquerda.
Mas até
então não havia notado a relação entre pensamento mágico e animista e
vitimismo. Notei agora! Desde anteontem.
Ultimamente
tem ficado impossível de não notar. É um tal de dizer que o Diretório Nacional
fez isso de maneira discricionária e antidemocrática, que o Diretório Estadual
de outro estado não dialoga.... Caramba! Ou eu estou ficando louca, ou pessoas jurídicas
de fato não fazem essas coisas. Se houve um erro, para o bem ou para o mal, há
um individuo que está errando. Se alguém não entendeu direito, há um indivíduo
com dificuldade de entender. Em sociedades em que a razão suplantou o animismo,
o indivíduo, consciente dos riscos e das oportunidades da vida em sociedade,
planeja a sua ação para ter o resultado que deseja. Se ele acha que alguém, em
algum lugar, não está alinhado, planeja um trabalho de cooptação e influência
para alinhar ou propõe um processo de trabalho. Em sociedades igualitárias,
onde não se pode recorrer à hierarquia ou ao animismo, indivíduos livres, que
olham para outros indivíduos livres como iguais, tentam influenciar para
promover o alinhamento que desejam. Ou, como dizem os ingleses, para usar um
termo mais sexy do que cooptação, que entre nós tem um significado ruim, “you
must try to charm someone to your side“.
Aqui não!
Como dizem os Titãs, vivemos achando que o “acaso vai me proteger enquanto eu
andar distraído” – e quando comemos mosca ou não atuamos com toda a nossa
capacidade e discernimento, ao invés de olhar para nós mesmos e tentar aprender
com nossos próprios erros, culpamos o ente místico. O DN, o DE..... Mas como
entes místicos tem de fato pouca capacidade de prover as nossas necessidades, caímos
no fatalismo: mais uma vez acreditamos que o Brasil teria jeito... só para nos
decepcionar novamente.....
Estamos
aprisionados no triangulo formado pelo animismo, pelo vitimismo e pelo
fatalismo? Será que alguém aqui acredita nos indivíduos como únicos produtores
de valor? De solução? De instituições que funcionam?
Acho que
estamos prestes a abrir um novo capitulo da antropologia da civilização
brasileira. A civilização sem sujeito ativo.
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