quinta-feira, 4 de abril de 2019


O animismo, o vitimismo e o fatalismo formam um triangulo dentro do qual nossa alma habita?


O animismo, segundo a antropologia, é um tipo de crença religiosa segundo a qual objetos, locais e todas as criaturas possuem alma e capacidade de ação. São como seres humanos. Vivos e atuantes. A antropologia tende a analisar essas crenças como típicas dos povos da floresta. Mas o animismo está entre nós! Teoricamente a razão moderna teria acabado com esse tipo de pensamento mágico. Não no Brasil.... nem na nossa politica.
Nos últimos dois dias debates intensos se formaram dentro do Novo. “O partido é autoritário”. “O partido é centralizador”. Sério? Pensei que esses fossem atributos de indivíduos... não de pessoas jurídicas.
Que a esquerda brasileira tendia ao animismo eu já havia notado. E essa tendência aparece mesmo nas mais triviais atividades do cotidiano..... uma vez eu havia assumido a coordenação da iniciação cientifica em uma instituição acadêmica. Tarefa rotineira nesse mundo. Meu chefe me pediu para lançar um edital e organizar o processo seletivo claro e transparente. Bem-mandada que sou, obedeci! Criei uma estratégia de comunicação. Criei peças publicitárias para a divulgação. Criei um cronograma de envio dos e-mails para que ninguém ficasse desavisado. Divulguei a data da inscrição. Muito bem... achei que tinha feito tudo certinho..... Aí uma colega, professora da instituição por muitos anos, ferrenha militante de esquerda, que sempre tinha recebido uma bolsa para um aluno por semestre, não viu. Não prestou atenção. Não achou que era para ela. Estava acostumada a estar acima dessas coisas. Perdeu o prazo! Ao invés de pensar: Oooopssss! Errei! Comi mosca! O que fez ela? Um email no melhor estilo “carta aberta”, acusando a instituição de falta de respeito e consideração por professores antigos de casa, que sempre fizeram por merecer respeito e consideração especial, e que agora, num ato de arbítrio, foram alijados das bolsas.....
Ora, não havia sido eu, a coordenadora do programa, que havia errado! Nem ela! Havia uma figura mágica, chamada instituição, que, pelas costas das pessoas de carne e osso, decide desrespeitar os outros. Ela, vítima desse monstro frio, depois de mais de 20 anos recebendo a bolsa todos os anos, perdeu para um colega!
Pois bem! Fui falar com ela. Como assim? Ela me disse: querida, não estou falando de você! Vi meus e-mails. Vi que você avisou (naturalmente que não havia visto antes)! – Mas a instituição deveria ter tido mais consideração comigo! Caraca! Pensei! A instituição é quem, cara pálida? Foi uma maneira muito louca de tirar a responsabilidade do próprio ombro e tentar reverter a situação a seu favor contra todas as novas regras que haviam sido discutidas nas reuniões de congregação! Nas quais ele tinha assento! Ao se fazer de vítima, criava um constrangimento que emocionalmente obrigava a todos a buscar uma saída a seu favor! Eu, que sempre fui chatinha com isso, pensei: Nem morta! Ou a regra é igual para todos, ou saio da coordenação. Acredito em todos iguais perante as leis e as normas. Acredito que a responsabilização individual é o caminho para diálogos éticos. E gosto de transparência. Climão! Depois observei muito do uso desse recurso como estratégia para o vitimismo nas campanhas politicas da esquerda.
Mas até então não havia notado a relação entre pensamento mágico e animista e vitimismo. Notei agora! Desde anteontem.
Ultimamente tem ficado impossível de não notar. É um tal de dizer que o Diretório Nacional fez isso de maneira discricionária e antidemocrática, que o Diretório Estadual de outro estado não dialoga.... Caramba! Ou eu estou ficando louca, ou pessoas jurídicas de fato não fazem essas coisas. Se houve um erro, para o bem ou para o mal, há um individuo que está errando. Se alguém não entendeu direito, há um indivíduo com dificuldade de entender. Em sociedades em que a razão suplantou o animismo, o indivíduo, consciente dos riscos e das oportunidades da vida em sociedade, planeja a sua ação para ter o resultado que deseja. Se ele acha que alguém, em algum lugar, não está alinhado, planeja um trabalho de cooptação e influência para alinhar ou propõe um processo de trabalho. Em sociedades igualitárias, onde não se pode recorrer à hierarquia ou ao animismo, indivíduos livres, que olham para outros indivíduos livres como iguais, tentam influenciar para promover o alinhamento que desejam. Ou, como dizem os ingleses, para usar um termo mais sexy do que cooptação, que entre nós tem um significado ruim, “you must try to charm someone to your side“.
Aqui não! Como dizem os Titãs, vivemos achando que o “acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído” – e quando comemos mosca ou não atuamos com toda a nossa capacidade e discernimento, ao invés de olhar para nós mesmos e tentar aprender com nossos próprios erros, culpamos o ente místico. O DN, o DE..... Mas como entes místicos tem de fato pouca capacidade de prover as nossas necessidades, caímos no fatalismo: mais uma vez acreditamos que o Brasil teria jeito... só para nos decepcionar novamente.....
Estamos aprisionados no triangulo formado pelo animismo, pelo vitimismo e pelo fatalismo? Será que alguém aqui acredita nos indivíduos como únicos produtores de valor? De solução? De instituições que funcionam?
Acho que estamos prestes a abrir um novo capitulo da antropologia da civilização brasileira. A civilização sem sujeito ativo.