quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Sobre a liberdade, a coragem e as virtudes necessárias para fazer a coisa certa. Pensando o que precisamos para travar o bom combate.

Escrevo esse texto depois de uma semana com alguns ataques a um post que fiz sobre a minha participação em um debate promovido por um movimento chamado “Virada Política” na sede da ONG Viva Rio. Digo que foram ataques, e não criticas, porque a critica é uma disciplina intelectual que pressupõe analise, compreensão da questão e racionalidade. E não foi isso o que aconteceu. Foram acusações a esmo. Irritadiças. Agressivas.....ataques à pessoa, e não às ideias, ao propósito ou à intenção.
Em um desses comentários aparece uma frase que ficou martelando na minha cabeça. Uma frase grosseira, machista, acusativa que dizia: tenha culhão, Carmen Migueles! O uso desse termo, que denota uma parte da anatomia masculina em linguagem chula, quer significar coragem.  Mas assim como o termo, a coragem que se demanda aqui é da agressividade descontrolada. Da capacidade de partir para o ataque a partir de um sentimento desgovernado. É regida pela testosterona, não pela consciência.
A primeira questão que me veio à mente foi: essa não é a coragem verdadeira, a que precisamos ter para fazer a coisa certa nesse momento, e não é preciso ter essa parte da anatomia para ter coragem com “C” maiúsculo, a coragem como virtude do espírito, a coragem para combater o bom combate e dizer “não” às pressões dos aparentes aliados que enraivecidos com o que a politica fez conosco clamam por sangue e vingança!
 Outra coisa que me veio à mente foi uma lição preciosa que aprendi nos meus 13 anos de Japão, onde os conhecimentos acumulados pelo Bushidou, ou “caminho do guerreiro” , fazem parte daquilo que os Japoneses chamam de responsabilidade, impossível sem o autocontrole, sem a consciência do impacto das próprias ações no conjunto e no contexto, sem a capacidade de se responsabilizar pelo futuro que se quer construir, sem paciência e sem resiliência. No meio da crise, é importante buscar o controle da mente, o controle das emoções, para encontrar saídas. É isso que nos faria aproveitar a crise como oportunidade. A agressividade, a guerra de todos contra todos, seria o oposto disso. Gastaríamos o que temos de mais precioso: nosso tempo, nossa energia e nossa vontade, empreendendo uma luta onde todos perdem. Onde não há vencedores. Onde não há possibilidade de vitória.
Temos uma sociedade com muitos problemas. Com muitas dores e muitas opressões. Temos instituições frágeis e muito imperfeitas, resultado da história de colônia de exploração que nos trouxe até aqui.  Há uma enorme distancia entre o Estado e a Sociedade. Somos o país do mundo com a menor propensão a confiar, de acordo com pesquisas comparativas internacionais. Se não melhorarmos a coordenação horizontal, jamais corrigiremos o rumo da politica nacional, pois sem organização da sociedade civil o nosso Estado é facilmente apropriado por oportunistas em todas as suas esferas. Não há saída sem isso. Nem à direita e nem à esquerda. Ponto!
Todos os países com essas características têm problemas endêmicos de corrupção. Tentar evitar a corrução via mecanismos de controle tem um custo gigantesco, aumenta o risco e a dificuldade das pessoas honestas fazerem a coisa certa e é ineficaz. A única forma eficaz de combater a corrupção é via aprimoramento da governança. E essa depende de participação cívica. A participação cívica pressupõe civilidade. A civilidade depende do diálogo.
 A nossa capacidade de resolver tantos problemas complexos e sistêmicos depende da nossa capacidade de cooperação, de coordenação e de alinhamento. Depende da nossa capacidade de combater o narcisismo das pequenas diferenças, o foco em brigar com pessoas por questões menores, e centrar nossos esforços no aprimoramento da nossa democracia e das instituições.
Muitos se sentem traídos! Muitos dos conservadores ou dos “direitistas de plantão” votaram no PT no passado. Votaram no Lula. Traídos e enganados se voltaram contra a esquerda como o cônjuge traído que passa a odiar seu ex. Acusam aqueles que acham que o foco na capacidade de combater a desigualdade deve preponderar sobre a o foco na geração de riquezas como se esses fossem sócios, partícipes interessados, no mal que o Estado apropriado nos causou. Não conseguem ver nesses concidadãos pares igualmente perdidos na traição que nos foi imputada, mas olhando para os problemas por outro ângulo. Perdem foco na humanidade que nos é comum. Fiéis agora às ideologias politicas do passado, usam autores como bíblias sagradas e sem olhar para os desafios reais, concretos do presente, não enxergam alternativas a não ser a lealdade às ideias ultrapassadas tanto da direita quanto da esquerda.  Transformaram a politica nas torcidas organizadas do futebol. Trouxeram nosso descontrole latino para o centro dos debates.
Os desafios do século XXI não podem ser pensados pelas dicotomias políticas do século XIX. A sociedade de hoje não é igual àquela que esses pensadores analisavam. E eles são só seres humanos como nós: que limitados ao seu contexto histórico, pensaram a sociedade em que viviam. Era impossível para eles antecipar o surgimento da sociedade do conhecimento com as novas interdependências que essa demanda. Era-lhes impossível imaginar o surgimento e o crescimento de sociedades de massa tão gigantescas e com tantas diferenças culturais, étnicas e sociais no seu interior. O Estado nacional no qual viveram pretendia ser igual em termos de valores e cultura. Todos os estudos desse tempo sobre o Estado Nacional acreditava que em um território habitava uma nação, entendida como um povo, com tradições e história comuns. A politica como vontade da maioria partia do pressuposto de que as pessoas concordavam sobre todo o resto e deliberavam sobre alternativas para a gestão da coisa pública. Não eram sociedades de milhões de pessoas, das mais diferentes origens, convivendo em um território e buscando formas de cooperar em meio às diferenças. Direita e esquerda.... nossa! Como isso é inadequado para os desafios que enfrentamos! Como isso reduz o problema de forma inadequada! Como isso nos rouba das enormes oportunidades que essa riqueza nos traz!
Eu nunca votei no Lula e no PT. E não o fiz porque discordo dos fundamentos do pensamento de Marx e suas implicações. Discordo ainda mais das distorções produzidas sobre o seu pensamento pelos autores Russos. Mas nem por isso preciso escolher cegamente seguir os autores que lhe ofereciam oposição no passado. Entre um e outro, não preciso escolher nenhum. Posso olhar para os desafios das democracias imaturas e emergentes na América Latina com um olhar menos contaminado por soluções pensadas em outros contextos. É claro que esses autores fornecem alguns conceitos e marcos analíticos interessantes, mas absolutamente insuficientes para o que vivemos hoje. Posso olhar para o resultado de um passado colonial recente e os desafios que esse nos coloca sem ter que buscar saídas em autores europeus de sociedades muito menores e mais iguais. Mas acho a discordância saudável. Democracias saudáveis precisam de oposição. Não tenho problema com quem pensa diferente. E  porque se acredito na liberdade, não posso querer combater a diferença, a variedade de opiniões e pontos de vista e querer a homogeneidade dos iguais, que me daria um conforto e uma segurança imaginaria, apenas possível na casa de um pai responsável e provedor... mas esse é o lugar infantilizado no qual se permanecermos elegeremos um ditador.....  Se acredito nas minhas ideias e nos meus concidadãos, devo acreditar que com diálogos conseguiremos cooperar.  Se não acredito, não sou liberal. Não sou democrata. Sou tudo aquilo que critico no outro.
 Brigar em grupo é coisa de vândalos agrupados em torcidas organizadas. Não de cidadãos participando da politica. Há a falsa sensação de segurança de pertencer a um grupo de iguais com a vontade de projetar todas as frustrações da vida na agressão ao outro. O autoconhecimento, o autocontrole, o autoconhecimento impediria isso. A agressão é coisa dos fracos. E precisamos, e podemos, ser fortes.
Lao-Tsé, Filósofo chinês que viveu em torno de 1300 anos antes de Cristo e que escreveu “O caminho do perfeito”, uma das obras centrais do Taoísmo dizia: o forte controla o outro. O poderoso controla a si mesmo. Esse entendimento, central nas artes marciais, é estruturante das virtudes, da coragem entre elas. O bom combate se trava assim.
Durante nosso trabalho de pesquisa no BOPE, que deu origem ao nosso livro “A Ponta da Lança” e outros artigos acadêmicos, ouvi, muitas vezes, sobre a importância do controle da agressividade como fundamental para ser membro da tropa, cujo objetivo, de buscar a vitória sobre a morte, está bem expresso no símbolo da unidade, que é a faca sobre a caveira.  Buscar a desterritorialização do crime e a libertação dos cativos que vivem sob a sua opressão pressupõe a disciplina pessoal, o autocontrole e o foco no objetivo: restaurar o domínio da lei em todo o território, estendendo o direito à paz a todos os cidadãos. O que mais me impressionou em todas as visitas à unidade foi a educação, a gentileza e o foco dos soldados. Confirmando que se você é forte, e fortemente armado, mas fiel aos seus objetivos, você se impõe uma forte disciplina pessoal sem a qual não haveria diferença entre o soldado e o criminoso.
O momento nos demanda virtudes. Nos demanda paciência, resiliência, compaixão. Nos demanda foco nas possibilidades e oportunidades. Nos demanda esforços para pensar em projetos que resolvam muitos dos nossos desafios estruturais. E nos demanda coragem. Coragem para combater a agressividade descontrolada, que é o caminho mais certo para colocar tudo a perder. Coragem para acreditar em saídas possíveis. Vontade e disposição para busca-las.
O pessimista, o autoritário, é antes de tudo um preguiçoso: se não acredita em nada não precisa tentar. Se não acredita em ninguém não precisa dialogar. Vota em um ditador qualquer e reza para que ele resolva todos os seus problemas.
Nessa hora é preciso inteligência para tentar não fazer opções equivocadas. Racionalidade para olhar para os dados e fatos. E consciência para compreender e enxergar os nevoeiros do presente e buscar bússolas para nos levar aonde queremos ir.  Se acredito nas minhas ideias e no valor delas, não preciso temer falar sobre elas para quem pensa diferente. Se construí solidamente o meu pensamento, sobre o estudo e sobre valores corretos, não há razão para não acreditar que pessoas racionais e bem-intencionadas não seriam influenciadas por elas. Como estudei, sei que não sei tudo e que não seria possível saber, conheço o poder das ideias e das trocas. E posso ouvir com abertura, pois sei o quanto ainda há por aprender, mas sei que não vou me perder por caminhos que não gostaria de percorrer.
Decidi não concorrer em 2018. Não por falta de coragem. Não por falta de vontade. Não apenas pelas dificuldades da minha vida pessoal. Mas porque pude ver, e sentir, que a posição de quem concorre hoje é terrível: ter que buscar votos para poder se eleger e fazer o que acredita ser necessário no meio de oposições emocionais e descontroladas te obriga a aceitar o inaceitável. A tentar dialogar no meio do caos e da gritaria. Abrir mão dos seus princípios e da razão e se torcer às demandas de acusadores descontrolados, mimados, cedendo à irracionalidade na politica. Acho que o meu lugar nesse momento é fora desse ringue. Para ser politicamente orientada para o bom combate não posso estar na se posição de tentar convencer alguém que não quer dialogo e que quer soluções fáceis e simplórias para problemas extremamente complexos a votar em mim. Fora da busca por votos posso escrever um texto desses e tentar chamar as pessoas à razão.
E não tenho receio em afirmar que aquele que agride e ataca, que julga quem não conhece, que é leal a ideias que não passam pelo crivo da razão e não resistem a analise de dados e fatos está no grupo daqueles que esta fechando as oportunidades de construirmos um pais melhor a partir dessa crise. A intolerância é um veneno. E não posso querer participar da construção de futuro sem denunciar esse fato! Pois estamos chocando os ovos das serpentes com esse comportamento e o resultado disso não pode ser bom! Sem concorrer posso falar sobre isso, alertar sobre esses riscos. E é nesse lugar que quero estar nas eleições de 2018. No lugar de poder chamar meus concidadãos para o exercício do verdadeiro poder: aquele que brota do dialogo e da razão.  Se eu estiver disputando cargos nesse cenário, teria que sair desse lugar. Mas é justamente aqui que desejo estar! E há vagas vazias esperando que você também se alie a essa difícil missão!


segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Democracia, liberdade e interdependência dependem da nossa capacidade de dialogar. Seus inimigos são os que não dialogam.


Democracia, liberdade e interdependência dependem da nossa capacidade de dialogar. Seus inimigos são os que não dialogam.

Conta-se uma história, e já não sei quem conta e nem onde a ouvi, que um grupo de sábios, com os olhos vendados, tocavam um elefante com a mão e tentavam descreve-lo. Havia os que tocavam a tromba. Os que tocavam o rabo. Os que tocavam as pernas e outros que tocavam seu corpo pesado e gigantesco. Com venda nos olhos conseguiam enxergar, através da imaginação, apenas aquela parte em que as mãos alcançavam. Os que tocavam a tromba, o rabo e as pernas engajaram-se em fortes debates sobre a grossura do animal. O que tocava a tromba e o que tocava o rabo perceberam que tinham “visões de mundo” semelhantes. E criaram uma tribo. Aquele que tocava a perna, grossa o suficiente para não se confundir com a tromba e o rabo, mas fina o suficiente para não se confundir com o tronco, ficava perdido tentando compreender as diferenças que os dois outros grupos gritavam ser óbvias. Isolado no centro, hora concordava com um lado, hora concordava com o outro, mas via que as discordâncias eram de certa forma irreconciliáveis.
Penso nas minhas aulas de história na faculdade onde falávamos sobre quantos séculos o ser humano precisou conviver com a violência para reconhecer o valor da alteridade. Como foram longos e dolorosos os percursos intelectuais e filosóficos para que pudéssemos viver em paz com os vizinhos.... Milênios foram necessários para reconhecermos que o diferente não era bárbaro e não merecia nem a morte nem a escravidão. Que eram só diferentes e que, mesmo assim, as diferenças, se prestássemos atenção, eram muito menores do que as semelhanças.
Como os sábios que tocam o elefante não conseguiam perceber que eram humanos em condições muito semelhantes, vendo a partir de perspectivas diferentes uma mesma realidade.
Penso em quantos séculos e quantos sábios, educadores e filósofos foram necessários para nos alertar sobre o papel da razão, da perspectiva e das emoções na formação dos nossos modelos mentais. Todos humanos, com informação imperfeita, olhando o mundo por uma perspectiva limitada e fortemente movido pelas próprias emoções. Olho para nós mesmos hoje.... Como, movidos por emoções, facilmente optamos pelo caminho fácil da volatilidade emocional e parecemos dispostos a jogar toda essa história para fazer com que se imponha a nossa visão de mundo…. Muitos falam sobre o papel da liberdade. Concordo com isso. É difícil pensar na felicidade sem liberdade. Mas não há liberdade humana sem responsabilidade. As crianças e os loucos não são livres.  A liberdade é um longo exercício, que só se completa com a responsabilidade, o autocontrole e o cuidado com o impacto das suas ações na sociedade. Não é possível defender a liberdade sem a consciência do impacto do próprio papel e das próprias ações no comportamento dos outros. Não é possível defender a liberdade para si e não para todos. E não é possível defender a liberdade sem defender a lei. Não há liberdade no estado da natureza. Não há liberdade no caos. A liberdade é produto da interdependência, que ao mesmo tempo a limita e a possibilita. A liberdade humana é situada e é tão maior quanto mais responsáveis somos. Autonomia significa auto + nomos= a capacidade de dar a si mesmo a lei e participar na sua elaboração e evolução. Diálogo com empatia são fundamentais para isso. Controle das emoções, a busca pela razão e escuta ativa são o caminho. É óbvio. Mas não custa relembrar.


terça-feira, 3 de outubro de 2017

Incerteza, radicalismo e lideranças narcisistas

Ao longo da história houve inúmeros momentos em que o aumento da incerteza (do contexto, dos cenários, da economia) favoreceu o crescimento de lideranças narcisistas. Esses líderes têm impacto negativo nas competências de outras pessoas que o cercam e são facilmente confundidos com lideranças carismáticas. Nas organizações privadas eles têm impacto negativo no desempenho. Na área pública eles têm impacto negativo no desenvolvimento das instituições e na democracia. O narcisista é aquele que demonstra confiança suprema em si mesmo, forte tendência para a dominância, percepção inflada sobre as próprias competências, arrogância e forte extroversão. São egocêntricos, não tem empatia pelos outros, são extremamente competitivos. Mesmo que na superfície elaborem discursos orientados para as soluções que todos buscam, de fato tem uma preocupação centrada em si mesmos. Nas relações diretas, tendem a ser exploradores, extremamente sensíveis às criticas, egocêntricos e com um profundo sentimento de serem especiais ou escolhidos.
Nos contextos de incerteza, há uma demanda latente por força e confiança para sair da crise. O excesso de confiança dos narcisistas tende a ser confundido com força, certeza, inovação e visão.  Os seguidores, pouco confiantes nas suas próprias capacidades, olham para a projeção de certeza que os narcisistas elaboram e os seguem para ter a segurança de que alguém esta cuidando para que volte a ordem e para que se dissipe o caos.  Há a necessidade, por parte dos seguidores, de sentirem-se seguros. A busca por segurança elimina a busca pela razão, pela lógica, por análises robustas de cenários e por desejo de participação. A escolha desses líderes reforça a transferência de responsabilidade e a infantilização dos seguidores.
A busca pela certeza leva a busca por ortodoxias de pensamento. E isso leva ao conflito, que reforça a sensação de caos e a busca por líderes narcisistas, que usam discursos simplórios, com palavras-chave dessas ortodoxias de pensamento, em um circulo vicioso que destrói capacidade de enfrentamento real dos problemas.
Autores do séc. XIX, que viviam outro contexto e outros desafios, viraram bíblias, textos sagrados com verdades reveladas, tanto para seguidores da esquerda quanto da direita.  Nas organizações privadas, aboliram-se as referências. Há um líder “interpreta” o que todos devem fazer sem consultar ninguém a não ser as próprias certezas (narcísicas).

Eu estou fazendo fantasias ou mais alguém está observando esse fenômeno, tão bem estudado na literatura, se instalando entre nós?

A diferença entre líderes narcisistas e os líderes capazes de produzir resultados coletivos extraordinários está na orientação para os resultados coletivos, no compromisso e comprometimento com uma causa e forte empatia por aqueles que desejam colaborar com ela. São capazes de distribuir poder e influência, abrindo espaço para a colaboração e cooperação. Com isso, expandem a sua zona de influencia para muito além do que é possível com controle e monitoramento direto.
Há uma relação direta entre esse tipo de liderança e o desenvolvimento das potencialidades do conjunto. Há uma relação inversa entre a liderança narcisista e os mesmos resultados. A liderança narcisista atrofia a capacidade de colaboração, e, portanto de desenvolvimento daqueles que estão próximos.

Confundem-se facilmente os narcisistas com os verdadeiros líderes porque há características comuns: autoconfiança, extroversão e propensão a influenciar o comportamento dos outros. Para diferenciar, é preciso ver: qual a missão, a visão de mundo e o caminho que o individuo aponta! Qual é a sua trajetória de vida e como ele se relaciona com a complexidade: subestima e simplifica ou constrói coalisões para enfrentar os desafios? E se ele tem uma visão clara de como os outros podem colaborar com ele e abre espaço para a colaboração e para o crescimento dos outros. Quem simplifica a complexidade, subestima os desafios, tem muitas certezas e não dialoga, é um narcisista sem dúvidas.
Incerteza, radicalismo e lideranças narcisistas

Ao longo da história houve inúmeros momentos em que o aumento da incerteza (do contexto, dos cenários, da economia) favoreceu o crescimento de lideranças narcisistas. Esses líderes têm impacto negativo nas competências de outras pessoas que o cercam e são facilmente confundidos com lideranças carismáticas. Nas organizações privadas eles têm impacto negativo no desempenho. Na área pública eles têm impacto negativo no desenvolvimento das instituições e na democracia. O narcisista é aquele que demonstra confiança suprema em si mesmo, forte tendência para a dominância, percepção inflada sobre as próprias competências, arrogância e forte extroversão. São egocêntricos, não tem empatia pelos outros, são extremamente competitivos. Mesmo que na superfície elaborem discursos orientados para as soluções que todos buscam, de fato tem uma preocupação centrada em si mesmos. Nas relações diretas, tendem a ser exploradores, extremamente sensíveis às criticas, egocêntricos e com um profundo sentimento de serem especiais ou escolhidos.
Nos contextos de incerteza, há uma demanda latente por força e confiança para sair da crise. O excesso de confiança dos narcisistas tende a ser confundido com força, certeza, inovação e visão.  Os seguidores, pouco confiantes nas suas próprias capacidades, olham para a projeção de certeza que os narcisistas elaboram e os seguem para ter a segurança de que alguém esta cuidando para que volte a ordem e para que se dissipe o caos.  Há a necessidade, por parte dos seguidores, de sentirem-se seguros. A busca por segurança elimina a busca pela razão, pela lógica, por análises robustas de cenários e por desejo de participação. A escolha desses líderes reforça a transferência de responsabilidade e a infantilização dos seguidores.
A busca pela certeza leva a busca por ortodoxias de pensamento. E isso leva ao conflito, que reforça a sensação de caos e a busca por líderes narcisistas, que usam discursos simplórios, com palavras-chave dessas ortodoxias de pensamento, em um circulo vicioso que destrói capacidade de enfrentamento real dos problemas.
Autores do séc. XIX, que viviam outro contexto e outros desafios, viraram bíblias, textos sagrados com verdades reveladas, tanto para seguidores da esquerda quanto da direita.  Nas organizações privadas, aboliram-se as referências. Há um líder “interpreta” o que todos devem fazer sem consultar ninguém a não ser as próprias certezas (narcísicas).

Eu estou fazendo fantasias ou mais alguém está observando esse fenômeno, tão bem estudado na literatura, se instalando entre nós?
Incerteza, radicalismo e lideranças narcisistas

Ao longo da história houve inúmeros momentos em que o aumento da incerteza (do contexto, dos cenários, da economia) favoreceu o crescimento de lideranças narcisistas. Esses líderes têm impacto negativo nas competências de outras pessoas que o cercam e são facilmente confundidos com lideranças carismáticas. Nas organizações privadas eles têm impacto negativo no desempenho. Na área pública eles têm impacto negativo no desenvolvimento das instituições e na democracia. O narcisista é aquele que demonstra confiança suprema em si mesmo, forte tendência para a dominância, percepção inflada sobre as próprias competências, arrogância e forte extroversão. São egocêntricos, não tem empatia pelos outros, são extremamente competitivos. Mesmo que na superfície elaborem discursos orientados para as soluções que todos buscam, de fato tem uma preocupação centrada em si mesmos. Nas relações diretas, tendem a ser exploradores, extremamente sensíveis às criticas, egocêntricos e com um profundo sentimento de serem especiais ou escolhidos.
Nos contextos de incerteza, há uma demanda latente por força e confiança para sair da crise. O excesso de confiança dos narcisistas tende a ser confundido com força, certeza, inovação e visão.  Os seguidores, pouco confiantes nas suas próprias capacidades, olham para a projeção de certeza que os narcisistas elaboram e os seguem para ter a segurança de que alguém esta cuidando para que volte a ordem e para que se dissipe o caos.  Há a necessidade, por parte dos seguidores, de sentirem-se seguros. A busca por segurança elimina a busca pela razão, pela lógica, por análises robustas de cenários e por desejo de participação. A escolha desses líderes reforça a transferência de responsabilidade e a infantilização dos seguidores.
A busca pela certeza leva a busca por ortodoxias de pensamento. E isso leva ao conflito, que reforça a sensação de caos e a busca por líderes narcisistas, que usam discursos simplórios, com palavras-chave dessas ortodoxias de pensamento, em um circulo vicioso que destrói capacidade de enfrentamento real dos problemas.
Autores do séc. XIX, que viviam outro contexto e outros desafios, viraram bíblias, textos sagrados com verdades reveladas, tanto para seguidores da esquerda quanto da direita.  Nas organizações privadas, aboliram-se as referências. Há um líder “interpreta” o que todos devem fazer sem consultar ninguém a não ser as próprias certezas (narcísicas).

Eu estou fazendo fantasias ou mais alguém está observando esse fenômeno, tão bem estudado na literatura, se instalando entre nós?

A diferença entre líderes narcisistas e os líderes capazes de produzir resultados coletivos extraordinários está na orientação para os resultados coletivos, no compromisso e comprometimento com uma causa e forte empatia por aqueles que desejam colaborar com ela. São capazes de distribuir poder e influência, abrindo espaço para a colaboração e cooperação. Com isso, expandem a sua zona de influencia para muito além do que é possível com controle e monitoramento direto.
Há uma relação direta entre esse tipo de liderança e o desenvolvimento das potencialidades do conjunto. Há uma relação inversa entre a liderança narcisista e os mesmos resultados. A liderança narcisista atrofia a capacidade de colaboração, e, portanto de desenvolvimento daqueles que estão próximos.

Confundem-se facilmente os narcisistas com os verdadeiros líderes porque há características comuns: autoconfiança, extroversão e propensão a influenciar o comportamento dos outros. Para diferenciar, é preciso ver: qual a missão, a visão de mundo e o caminho que o individuo aponta! Qual é a sua trajetória de vida e como ele se relaciona com a complexidade: subestima e simplifica ou constrói coalisões para enfrentar os desafios? E se ele tem uma visão clara de como os outros podem colaborar com ele e abre espaço para a colaboração e para o crescimento dos outros. Quem simplifica a complexidade, subestima os desafios, tem muitas certezas e não dialoga, é um narcisista sem dúvidas.

segunda-feira, 24 de julho de 2017

O BOPE, a espiritualidade no mundo do trabalho e a necessidade de uma imprensa um pouco mais profunda!

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/07/1901929-bope-abre-templo-evangelico-e-utiliza-versiculos-para-justificar-letalidade.shtml

O BOPE, a espiritualidade e a condição humana
Carmen Migueles

Eu e Marco Tulio Zanini, estudamos o BOPE desde 2011. Escolhemos estudar esse batalhão para compreender como conseguiram constituir equipes de alto desempenho frente a tanta adversidade. É um tema de interesse em gestão pública e somos professores e pesquisadores na área. Em termos de gestão, o BOPE é considerado uma CAO: critical action organization, em inglês, em que qualquer erro pode ser fatal.
Publicamos o nosso primeiro livro sobre o tema em 2014. Escolhemos uma CAO para estudar o papel da confiança em casos extremos. Temos outros artigos acadêmicos sobre o tema.
Acabamos de submeter um paper acadêmico para publicação próxima sobre a questão da espiritualidade no batalhão. Não incluímos esse tema no livro, porque era de tanta sutileza e complexidade que demandava uma analise antropológica mais robusta. E me impressionou a forma leviana com a qual o tema foi tratado na folha de São Paulo.
A questão da espiritualidade existe na tropa. Por uma questão simples: como conviver com a morte, o mal, o crime, a covardia, a injustiça, a tortura de menores por bandidos, a vitimização dos inocentes nas comunidades, uma rotina de trabalho marcada pela violência e pelo risco de vida mantendo a saúde mental? Como lidar com uma rotina tão dura, com tanto risco pessoal e profissional, e perseverar na tarefa? Por que não desistem e mudam de emprego? O que os faz ir para o trabalho todos os dias? Qual é a fonte da sua motivação? Eram algumas das perguntas que buscávamos responder para entender os desafios da gestão pública nessa área.
 Já são 91 policiais mortos. E quem esta nessa profissão tem como rotina ir ao enterro de colegas jovens e ver nesses as viúvas com seus filhos pequenos, agora órfãos. Conhecemos alguns desses. Saem de casa para trabalhar todos os dias, como dizem eles, “sem flores para recebê-los! É só bala”! Vêem o retorno da insegurança e da violência e a desconstrução de muito do que fizeram nos últimos anos. Há não muito tempo atrás, conversamos com a liderança do Batalhão sobre um programa para a preparação do BOPE para paz.... quando sonhávamos que a politica publica de segurança daria certo e a tropa teria apenas uma função de manutenção dessa. Nos surpreende uma matéria de jornal que dá a entender que há algo do tipo “Ceita” se formando no interior da unidade. Que lança uma fagulha de desconfiança de que ali alguns loucos usam a religião para justificar a morte. E atiça o medo e a desconfiança sobre uma tropa que é referencia mundial naquilo que faz e onde pessoas como eu e você trabalham duro para fazer a coisa certa, com um volume enorme de dificuldades e muita falta de apoio.
O símbolo do BOPE nada tem a ver com uma imagem Cristã. Foi concebido pelo coronel Almendola, um dos fundadores da unidade, nos idos anos de 1978, que nos deu uma longa entrevista sobre a razão pela qual era importante ter um símbolo e porque esse símbolo: o espirito de corpo é o que garante que um soldado não deixara o outro ferido no campo de batalha. O sentimento de unidade, de identidade e o senso de missão é o que precisa orientar a ação. Um soldado sozinho é vitima fácil. Uma equipe bem treinada é a espada da lei.  A caveira é um símbolo antigo nas organizações militares. A faca na caveira simboliza vitória sobre a morte. E esta relacionada diretamente ao objetivo de realizar as operações sem nenhuma morte: nem do policial. Nem dos cidadãos no entorno. Nem dos bandidos, que devem ser levados à justiça. Cumprir a lei, para eles, é zelar por esse ideal. O treinamento duro tem por objetivo retomar o território que esta sob o domínio do crime, permitir a ação do Estado e o domínio da lei, e instaurar a paz. Para isso, o controle da agressividade, a busca incessante pela excelência, o treinamento robusto, a busca constante por identificar quem possa manchar esse ideal e afastar do grupo faz parte de esforço continuo. O circulo vermelho é a força da lealdade, que é o que garante a vida de cada um.  As duas garruchas cruzadas são o símbolo da Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro. O formato da faca não é referencia à cruz. É uma arma de batalha. Nem o vermelho é uma referência ao sangue de Cristo.
            Sim. Eles rezam. Se sua vida corresse risco diário talvez você também o fizesse. E sim, eles sabem que podem errar. E que quando isso acontece, as consequências podem ser terríveis. É preciso rezar por isso também. É preciso rezar para ter forças e perseverar na luta contra o crime. Para não ser atingido por balas ao longo da rotina diária de trabalho. Para tolerar o volume de maldades que veem diariamente. Para conseguir voltar para cada e ser um pai e um marido normal. E para ir a tanto enterro de colegas de trabalho.
            Agora: nesses 6 anos de estudo no Batalhão, nunca vimos, em nenhuma circunstancia, alguém usar versículos para justificar letalidades. Nunca vimos também a “exclusividade de evangélicos”. Não falamos da espiritualidade de maneira leviana nos nossos escritos. Entendemos, com Viktor Frankl, que a busca do sentido é fundamental para a saúde mental e para dar-lhes força para perseverar em uma profissão que lhes impõe tantos riscos. E entendemos que esse é o caso dos policiais do BOPE. Que como tantos outros estão com suas vidas em risco para defender a nossa.

Trechos do nosso paper, que será publicado em breve:
This is a paper on spirituality at work in an organization embedded in a very specific institutional arrangement. Institutional diversity (Ostron, 2005) matters, especially in the configuration of the context in which spirituality can emerge as a way to grasp reality, impose meaning on experience and shape the way to interact with instable course of social action (Weber, 1968; Eliade, 1992).  Metaphysics is relevant to produce stable references, grounds for cognition, and frames of reference for interpretation of reality and judgement (Douglas, 1966 and 1986). It is even truer in institutional arrangements where the available schemes of thought fail in providing the necessary grounds for decision and action. Besides, spirituality, and the desire to be connected to other spheres can be a way to feel saturated with power (Eliade, 1992, p. 13) and it can be extremely relevant if one’s daily activity deals with life-risking situations and with the proximity to death.
…..The study that gave origin to this paper started with a rather simpler goal. At first, we intended to understand the role of trust and leadership in extreme situations. We chose a Special Forces Unit in search for the elements of informal coordination that are relevant for the modus operandi of organizations that act in sceneries of high complexity and high uncertainty (Zanini, et al. 2013 and 2014).  However, on the course of empirical investigation, we were led to so many unexpected situations, for which our original analytic framework was so obviously inadequate, that we felt compelled to move toward a more in-depth, qualitative dive than we had originally imagined.
…..The research on the motivation to fight crime in Rio by members of BOPE was accomplished with the combination of three methods: ethnography, with participant observation at the headquarter (for safety reasons we were not allowed to accompany the troops in missions), in depth interviews with leaders and retired members, and quantitative analysis (Zanini, et al. 2013a; 2014). The unit has 543 members.
……We call “elements of informal coordination” all tacit solutions of internal integration that are critical for the acceptance of high risk and success in extreme conditions. This is a case study of a CAO (Critical Action Organization). According to Hannah et al. (2009) organizations in this category deal with events of extreme uncertainty and high probability of critical consequences of large magnitude, involving risks to the lives of members and non-members.
 …..This is an extreme case among CAO (Zanini et al. 2013 and 2014), with daily operations under extreme circumstances, in which the lives of agents are constantly under threat and the results in terms of military and civil casualties are comparatively higher. We attempt to understand, in this exceptional case, what led the officers to perform their duties under adverse conditions, and how they organized themselves to do it, both in terms of organizational design as in efforts to enhance effectiveness.
……We investigated BOPE (Batalhão de Operações Especiais, the Battalion of Special Operations) from the Military Police of Rio de Janeiro. According to Decéné (2009), this type of special unit operations was created during the Second World War to use violence in a planned and punctual way to reach better results than those possible by conventional forces. BOPE was created in 1978, inspired by those post-war units, to fight the growing urban violence in Rio de Janeiro. They are organized in smaller, autonomous units, with fewer soldiers and a new combination between information, technology and strategy. This organization is important to increase effectiveness in actions with features of urban guerrilla.   In terms of military organization, these units are designed to be effective alternatives for the growing complexity and uncertainty of the combats, given the risks for civilians, soldiers and criminals. For these purposes, centralized control tends to be inefficient (Spulak, 2007). Shared leadership and autonomy are key to success, but it increases the demand for intangible mechanisms of coordination and reduce the effectiveness of command and control (Zanini et al., 2014). Those units usually have a strong internal cohesion and a strong sense of devotion to a common cause in common (Weber, 1968; Clausewitz, 1979; Storani, 2006; Spulak, 2007; Decéné, 2009; Zanini, 2013). Differently from those units that fight terrorism or guerrilla type wars, that deal with an external enemy, BOPE deals with citizens of the same city, organized and random crime deeply entrenched in slums, where many times the local, poor population, functions as human fences blocking the entry of the police and the state, in general. Their main mission, to deterritorizalize crime, today in control of many areas in the city, is what leads them to the core of a rather chaotic territory, not only geographically, but especially symbolic.  We observed that the notion of enemy in this context and the decision of when and how to act is deeply related to their identity and cultural imaginary about their mission. Their relation to metaphysical reality is the core to their organizational culture.
…..Many studies of this type of organization point to the great importance of first level leadership, with a central role in planning and commanding operations (Storani, 2006, Spulak, 2007, Decéné, 2009). They also argue that shared leadership has a relevant role in internal coordination at those units and that their efficacy depends, significantly, on the respect for the direct leader, on loyalty to peers and the leader, respect and a predisposition to accept command. Weber (1968) and Clausewitz (1979) call attention to the role of charisma and a sense of mission for the internal coordination and military success, to the development of the “spirit of the corps” (generally defined as loyalty and trust in the fellow soldiers and leadership, where one finds strength and inspiration. Clausewitz, 1979), and performance in war.
........ Symbolism: a patron, a totem: the skull - were all mechanisms of controlling what they called “excessive energy” and its dispersive effects. On the one hand, they recognize the importance of searching for the ideal profile of a soldier for this sort of special operation, the extreme rigor in the selection process and the hardship of the training period, in which many times the officers tested the energy and desire of the soldier to remain in this career. On the other hand, they point to the challenge of controlling these men in action. Symbolism, rituals and history are the resources at hand. This is clear to all of those in a leadership position.
………….. Lévi-Strauss (1977) notes that the demand for order, observed both in “primitive” thought as much as in the concern for organizing and typology creation in science, as all other ordering efforts, have in common the fact that they have an eminent aesthetic dimension. Order in thought, in nature and on metaphysics, are both, at the same type, precondition for thinking and an aesthetic demand. Lévi-Strauss quote an indigenous thinker as he expressed this idea in a sentence: “every sacred thing must be in the right place”, an idea that Douglas (1966) somehow embraces later. The idea of “order” as an esthetical dimension, and the cultural effort to order the world as a basis of the capacity to think, connects the process of ordering the world as part of the esthetical experience. The need for order is not a demand of the primitive thought, mas of all thought (Levi-Strauss, 1997, p. 25). The first object of this mode of knowing corresponds to intellectual demands, prior to satisfy any other practical needs. If we fail to impose order to experience, even if it is done only in thought, is as “the entire universe order could be destroyed” (p. 24). The invocations that emerge of these efforts for ordering correspond to the capacity to “proceed safely” (p. 25). The magic thought, is a variation on the theme of the principle of causality. In this case, the difference between science and witchcraft is smaller than a distance observation could suppose.
……….. The understanding of the importance of the symbolic universe and metaphysics for military organization is ancient. Weber (1968, p. 49) points to the fact that leadership in military operations cannot be explained by reason alone. He observes that charismatic authority, necessary in this type of organization, is specifically outside the realm of every-day routine and the profane sphere. According to him, there is a strong element of irrationality in these bonds of loyalty and commitment. It is precisely that what is necessary to be better understood. We wish to understand this “hunger” for effectiveness, the forming elements of this will and the sort of cultural creativity it engenders.  There is a clear search for increasing power over chaos, a search that is oriented towards the improvement of self-discipline and team performance, as well as the capacity to offer resistance to what is perceived as social and institutional disorder.