sexta-feira, 22 de julho de 2016

Ética e a cidadania

Ética e a cidadania

                Há  um conceito básico de ética nos textos de um dos maiores filósofos que a pensaram: é o imperativo categórico, de Kant. Segundo ele, é dever de todo ser humano agir conforme os princípios que gostaria de ver na ação de todos os outros. É ético o indivíduo que age de forma que a sua ação possa ser uma máxima universal.
                No entanto, na pratica, a vida é permeada por desafios de natureza prático-moral, em que não é possível ter 100% de razão em nenhuma linha de ação. O conflito de interesses é da natureza da vida. Por exemplo, se quisermos ser 100% a favor da preservação ambiental, no limite não podemos nem mais ter filhos, pois isso vai impactar no consumo e na produção de esgoto e lixo. Ser ético não pode ser não ter mais filhos, pois isso significaria o fim da vida humana. Ser ético é compreender o impacto que causa e tentar reduzir os danos. Portanto, ter filhos, reciclar o lixo, apagar as luzes sempre que puder, comprar carros menos poluentes, apoiar empresas éticas, que usam produtos menos tóxicos, etc. Se todos agissem dessa forma, não seriam necessários controles.
                A liberdade com responsabilidade pressupõe a capacidade de se impor sacrifícios. Se em nome de um bem maior ou do direito do outro não me imponho sacrifícios, simplesmente não sou ética. Sou só egoísta. A ética, portanto, pressupõe a busca pelo cultivo das virtudes.
                 A ética, como filosofia racional, na prática dialoga sempre com a cultura. E a nossa cultura nacional é fortemente aberta a auto complacência, a auto indulgencia, ao fatalismo (sempre foi assim! A saída para o Brasil é o aeroporto!) e a volatilidade emocional.  A liberdade humana, de acordo com essa corrente de pensamento, aumenta com o autocontrole, com a autodisciplina, com a consciência crítica, com a busca pela razão. A liberdade defendida pela Escola Austríaca é um exercício olímpico nesse sentido! 
                O desafio de aumentar a liberdade não é fácil por essa razão. O Novo tem um desafio gigantesco em relação a conscientizar os indivíduos sobre a sua responsabilidade e torna-los sócios no nosso projeto (ver: www.novo.org.br). Isso é fundamental para termos sucesso em outro desafio: motivar o cidadão a atuar na política com visão de longo prazo!
                Isso é precondição para termos sucesso no aumento das liberdades (politica, jurídica e econômica) e atingir nosso objetivo de reduzir o papel do Estado para aumentar a prosperidade criando um contexto capacitante para a inovação e o empreendedorismo.

                A virada de uma sociedade com uma visão mais coletivista, que olha para o indivíduo como um incapaz que precisa ser tutelado pelo Estado, para uma mais individualista, que olha para o indivíduo como o único ente que de fato produz valor, na verdade coloca um desafio para cada cidadão.  Precisamos que cada um seja mais forte, acredite mais em si e seja mais responsável por suas escolhas. Teremos esse desafio na campanha. Precisamos de cada indivíduo que acredita nisso trabalhando para conscientizar, atrair e engajar outros cidadãos no nosso projeto! Juntos seremos muito mais fortes. Juntos somos NOVO!
Sobre a informação, a desinformação e os riscos para a democracia

                Na teoria, a democracia é um conjunto de regras que garante que a gestão pública é feita de acordo com a vontade da maioria. É um mecanismo de fragmentação do poder (nas três esferas: legislativo, executivo e judiciário) que garante os direitos dos indivíduos frente à concentração de poder necessária ao funcionamento do Estado e a garantia da liberdade. É contra intuitivo achar que a liberdade se relaciona positivamente com o Estado. Mas basta lembrar da sociedade medieval, antes da unificação dos territórios em Estados nacionais: havia o monopólio da força pelos senhores feudais mais fortes e todos viviam sob domínio das suas regras. Não havia mecanismos de garantia de contratos, não havia justiça e não havia polícia para a qual ligar se alguém entrasse violentamente na sua casa e impusesse a sua vontade por meio da força.  O filme de Mel Gibson, Coração Valente, é um bom exemplo do que é isso. O filme “O Nome da Rosa”, baseado no romance de Umberto Eco, também, pois mostra o que acontece quando uma instituição (a igreja daquele tempo) dá as regras sobre o que pode ser lido, dito ou pensado. Foram séculos de evolução até chegar em um arranjo em que os direitos dos indivíduos pudessem estar garantidos. A concentração do direito ao uso da força pelo Estado e a regulação do seu uso por meio da lei discutida democraticamente foi o que acabou com esses abusos. A liberdade de ir e vir, especialmente das mulheres, fisicamente mais fracas, dependeu de um arcabouço legal capaz de condenar à prisão quem, no uso da sua liberdade e dos seus direitos, viola a liberdade e o direito dos outros.
                A defesa dessa liberdade dos indivíduos: contra a opressão direta por outro ser humano e a liberdade de escolha (entre permanecer ou não em uma relação contratual e liberdade de empreender) gerou um enriquecimento sem precedentes nas sociedades que conseguiram se organizar para garanti-la. Há aqui uma questão chave para nós, hoje, no Brasil: garantir que o Estado seja essa organização criada pela sociedade para garantir direitos, contratos e a liberdade. Um Estado capaz de garantir o direito à vida (ninguém pode matar ninguém por força da sua vontade), o direito à liberdade (só o Estado pode condenar, punir e emprisionar) e o direito à propriedade é fundamental para a produção de riquezas e a viabilização da justiça. O contrário disso seria a guerra de todos contra todos, em que indivíduos gastam suas vidas lutando para não ser atacado naquilo que em sociedade chamamos de direitos fundamentais, ou a perda da liberdade causado por uma organização estatal que não garante a liberdade e os direitos, mas usa a concentração de poder para impor sobre a sociedade um projeto que não representa o melhor interesse da maioria.  De modo geral as pessoas concordam com essa ideia de liberdade e de que o Estado deveria garanti-la…. A não ser quando aqueles que são contrários a ela embaralham a comunicação….
                Durante os últimos anos vivemos sob o governo de um partido que, no discurso público defendia aquilo que acreditava que a população queria ouvir, mas pelas costas da sociedade criava um projeto de aumento do seu poder para implantar um regime que, se explicitassem, se falassem as claras, se botassem em discussão, a sociedade não aprovaria. As campanhas foram montadas sobre mentiras. As estratégias das agências de publicidade que desenvolveram o marketing político no Brasil estão baseadas não apenas em argumentos falsos, mas em estratagemas e planos táticos desenvolvidos para gerar confusão e desinformação. Mente-se, não apenas por falta de caráter, mas como parte de um projeto de poder. Enrola-se a comunicação para que a maioria não consiga, no caos de argumentos desconexos, articular um discurso de orientação por valores que seja a síntese daquilo que deseja ver na prática política. No meio do caos, os indivíduos se sentem incapazes de saber quem é bom e quem é ruim, o que é possível e o que não é, e acabam por ser levados por simpatias ou pela emoção.  Esse é o começo do fim da democracia e de séculos de esforços por garantir que as liberdades individuais e a racionalidade na escolha prevalecessem no cenário político. As campanhas baseadas em simpatias e emoção só beneficiam aqueles que, se apertados no terreno duro da racionalidade e possibilidades concretas, perdem espaço para suas agendas ocultas e seus acordos mirabolantes.
                É por isso que mantemos a ancora no pragmatismo, na orientação por valores e no discurso simples de quem lida com dados, fatos, possibilidades e restrições reais. Contra todas as formas de engano, confusão e conflito, que são estratégias de poder que destroem os direitos individuais e as liberdades, voltamos sempre aos dados, fatos e valores. Essa é a estratégia de resistência necessária aos cidadãos comuns que dizem não às formas espúrias de fazer política.  Não nos interessa ganhar com mentiras. Não nos interessa a confusão. Não nos interessa uma campanha em que oponentes pegam frases soltas, fragmentos de informação, e nos atacam. Essa é a forma de fazer política dos desonestos e das suas vítimas, aqueles que, sem domínio das próprias emoções, saem atirando argumentos como loucos no meio dos debates sem sentido buscando desesperadamente acreditar que com isso conseguem fazer a diferença no meio da gritaria. Estamos do lado dos que fazem o duro exercício da ética e da razão. Serão necessários: resiliência, autocontrole, foco e paciência na dura tarefa de fazer uma campanha limpa. Vão nos atacar de todas as formas. Essa é a tática dos nossos oponentes. Nos manteremos firmes na busca por valores e na racionalidade ancorada em dados, fatos, possibilidades e restrições.  Como cidadãos na política prometemos lutar contra o caos produzido pelas táticas de desinformação, rotulação, acusações soltas e decisões precipitadas e parciais. Faremos isso porque temos certeza de que essa é a única forma de representar cidadãos como nós, comprometidos com a qualidade da escolha na política, com representatividade democrática, com a concretude das promessas, dentro de uma sociedade de indivíduos capazes de exercer a liberdade com responsabilidade.


Sobre a proximidade, representatividade, diálogo e a justiça

                Ontem uma equipe do Novo foi à Vargem Grande, convidados pelo Sardinha, nosso pré-candidato a vereador, para conversar com a Associação de Moradores. Havia um incômodo com o PEU das Varges, um projeto criado pela prefeitura em associação com a Odebrecht e a Queiroz Galvão em uma parceria público-privada para a urbanização da região. Lemos sobre o projeto, vimos as reportagens sobre o tema, lemos os projetos de lei envolvidos em sua regularização para irmos preparados para a conversa. O projeto parecia muito bom. Restava a dúvida: por que os moradores estavam incomodados com ele? Seria algum tipo de resistência à mudança? Deveríamos, se ganharmos, dar continuidade a ele?
                Para nossa surpresa, a grande questão dos moradores não é com o projeto.... Até acham interessante.... é com o fato, bastante absurdo, da prefeitura não ter discutido o projeto com os moradores como prevê a lei e não ter preparado a região para ganhar com ele. Ouvimos, negativamente surpresos, que até hoje as diferentes administrações municipais não regularizaram a ocupação do solo e não organizaram o mínimo necessário para dar segurança jurídica aos moradores. Não fizeram o básico para que as pessoas possam regularizar a situação das suas propriedades.  Falando assim pode-se pensar que estamos falando de invasões.... Não é o caso.... Pouca gente hoje sabe que os cartórios no Brasil são da década de 1920 e que os registros de propriedade, no passado, ou eram garantidos pelos usos e costumes, por documentos de concessão estatal (como no caso das capitanias hereditárias), haviam registros em igrejas ou eram conquistados na bala.  Há ainda hoje no interior do Brasil inúmeras disputas relativas aos direitos de propriedade sobre a terra. Ora, sem direito de propriedade não há economia de mercado que funcione, há forte instabilidade jurídica e uma grande fragilidade do cidadão para garantir o seu direito.
                Em Vargem Grande e Vargem Pequena alguns proprietários rurais fracionaram e venderam pedaços das suas propriedades e nunca conseguiram legalizar por falta de ordenamento da região, que é atribuição da prefeitura. A região foi se urbanizando por fragmentação, como ocorreu na origem de todas as cidades do mundo, sem que as administrações municipais se dignassem a ir lá para ordenar. A Associação de Moradores afirma que os pedidos de ordenamento urbano da região são tão antigos que não há memória de quando as solicitações começaram. Talvez 100 anos…. É impressionante como o discurso de modernização convive com omissões dessa ordem.  A função do Estado na garantia dos contratos e do direito de propriedade é estrutural para todos os outros acordos entre os indivíduos.  Imaginar que omissões dessa ordem existam dentro da região metropolitana do Rio de Janeiro no século XXI é de estarrecer…. O que os moradores querem é que a prefeitura faça a sua parte na emissão dos documentos necessários para que eles possam fazer as escrituras das suas propriedades e tenham certeza de que os projetos mirabolantes não passarão com tratores sobre suas casas sem que tenham recursos para se defender.... É, no mínimo, justo!  Feito isso, sentam-se na mesa para discutir qualquer proposta para a região.  Sem segurança jurídica e garantia dos direitos de propriedade não há economia de mercado!  


sexta-feira, 24 de junho de 2016


A dicotomia entre direita e esquerda está ultrapassada. É necessário abrir espaço para o Novo....

 

Nunca foi tão verdade que o indivíduo é o único gerador de riquezas, o livre mercado é fundamental para a dinâmica da inovação e da produção de valor e o agente de mudanças. E de que precisamos ser responsáveis por nossas ações e nossas escolhas.

O controle centralizado é absolutamente incapaz de produzir resultados em um mundo complexo e imprevisível, com uma enorme incerteza, um grande número de inovações disruptivas e várias formas possíveis de escolher viver a própria vida.

                Uma das perguntas que mais ouço ultimamente é se sou de direita. Quando digo não necessariamente, perguntam se sou então de esquerda. Digo que nem um nem outro. Me perguntam então se sou de centro. Ora! Também não. As formas de pensar a política nos séculos XVIII e XIX simplesmente não são adequadas ao século XXI.  Elas simplesmente não funcionam para a sociedade do conhecimento, da inovação, da integração em redes, das dinâmicas colaborativas.

 
                Explico as razões abaixo:

 
Há dois pensamentos estruturantes da noção de direita e da esquerda: a ideia de que a direita é a favor do capital e a esquerda a favor do trabalho. A direita é a favor dos ricos e a esquerda a favor dos pobres. Logo: A ideia de que a defesa dos interesses dos trabalhadores onera as empresas e que as empresas têm interesse em explorar os trabalhadores. Há a ideia de que a direita defende o egoísmo individualista e a esquerda a solidariedade altruísta. Há a ideia de que liberdade é uma agenda de direita (exceto pelo anarquismo e anarcossindicalismo) e o Estado forte é do interesse dos pobres. Há, também, a ideia, e essa acho particularmente absurda nos dias de hoje, de que as elites têm interesse na pobreza e dela se beneficia.

 

Ora:

A noção da esquerda de que o capital (e o capitalismo como sistema derivado da acumulação desse) tem interesses opostos ao trabalho está baseada na ideia desenvolvida por Marx de que a propriedade dos meios e instrumentos de produção permite aos capitalistas extraírem mais-valia do trabalho, dado que o trabalhador só teria a força dos braços para vender e precisaria do capital para trabalhar. Essa noção perde a relevância quando a economia passa a ser cada vez mais conhecimento-intensiva e o conhecimento, que se torna o principal ativo dessa economia, pertence ao trabalhador. Vimos pessoas como Bill Gates e Steve Jobs criarem empresas gigantescas com as inovações que conseguiram pensar. A barreira do capital praticamente desparece na sociedade orientada pela inovação.

Empresas que constroem sua atuação baseada em trabalho mal remunerado são pouco competitivas e tendem a não resistir à competitividade do mercado atual. Uma economia fortemente construída sobre essas bases é extremamente frágil. Essas são, cada vez mais, uma realidade nos mercados fechados, protegidos por um Estado que promove a sobrevivência dos menos eficientes, onde há mais corrupção e mais oportunismos.

Na ausência de uma educação mais estruturante da dinâmica do conhecimento o pobre fica pobre não porque isso é bom para a elite, mas porque fica excluído da economia. Não há quem ganhe com isso em uma econômica competitiva. Pelo contrário: a pobreza e a exclusão favorecem ao crime, à violência e a desorganização das cidades. E isso é ruim para todo mundo.

Mais qualidade de educação, pelo contrário, é bom para as empresas e para todos os indivíduos. Nos países com mais liberdade e qualidade de educação, a pobreza foi praticamente eliminada.

Pensar em termos de direita e esquerda é pensar em termos de jogos ganha-perde. Para alguém ganhar, o outro tem que perder. Na sociedade do conhecimento e da inovação, quanto mais indivíduos capazes tivermos, mais todos ganham. É uma outra mentalidade, uma nova forma de olhar para a vida em sociedade e para a economia. Sem liberdade, os indivíduos simplesmente não conseguem fazer bem o que precisam para ser produtivos e colaborativos, ao mesmo tempo, sociedades intensivas em conhecimento funcionam assim, de forma interdependente.

 

 

 

 

 

 

 

 

 
Sobre a igualdade, a liberdade e a meritocracia como fatores de desenvolvimento

                Eu fui convidada para falar para um grupo de jovens e crianças na Igreja da Ressureição, em Copacabana. A maioria delas da comunidade do Pavão Pavãozinho.  Perguntei: vocês são livres? Todos concordaram que não. A razão pela qual acreditavam não ser livres era porque não podiam ter e fazer tudo o que queriam. Não era esse o entendimento de liberdade que me interessava. Porque não é possível para o ser humano esse tipo de liberdade. Eu gostaria de voar. Sonho antigo da humanidade. Mas não posso. Isso não reduz a minha liberdade.
 Mudei a estratégia. Falei sobre vários líderes empresariais brasileiros que quando começaram a sua história eram tão pobres quanto eles. Não é difícil achar. Esses são muitos em um país de imigração e industrialização recentes. Perguntei: o que vocês acham que eles fizeram para conseguir tanto sucesso? Eles responderam: deram sorte, roubaram ou enganaram alguém ou alguém ajudou; Eu estava tentando demonstrar que é possível mudar a própria vida se a pessoa se organiza para isso e persevera nas suas intenções.... Estava difícil.
Tive uma ideia: recorri à antiga metáfora do anjinho falando em um ouvido e o diabinho falando no outro. Perguntei: o que o anjinho fala em uma orelha? Um menininho de uns 9 anos disse: ele diz para eu tomar banho.
- Você toma?
- Não....
- O que o diabinho diz?
- Ninguém vai me cheirar mesmo....
- Mas quem quer seu bem?
- O anjinho.... Se eu não tomo banho fico cheio de pereba..... Mas eu não gosto muito de banho......
Quem mais quer contar uma história? Outro menino, agora com uns 14 anos, começa:
- O anjinho diz para eu ler e estudar.
- Você lê e estuda?
- Não.
- Mas porquê? O que o diabinho diz?
- Não é diabinho não.... é um diabão desse tamanhão.... É meu game.... vou estudar ele diz: você está quase passando da fase..... Meu pai grita: menino, desliga esse negócio e vai estudar..... o diabão diz: nem liga.... daqui a pouco ele tá babando no sofá.....

Falamos sobre a liberdade como a capacidade humana de escolher entre coisas melhores e piores…. Eles acharam esse exercício muito difícil. Não estão sozinhos. O peso da liberdade é mesmo difícil de carregar…. Ser livre é ser dono das próprias escolhas e responsável pelas consequências…daí a sua importância. Essa era a razão pela qual estávamos ali. Em um grupo chamado, não sem razão, grupo da Perseverança. O objetivo é apoiar-nos uns aos outros nessa difícil tarefa. Pois embora difícil, tentar escapar dela é sempre pior....

Mudamos o exercício. Propus um teatro. Contei essa estória:
-  Eu sou um trabalhador ali da comunidade. Trabalhei minha vida toda e agora perdi o emprego. Recebi meu fundo de garantia e tinha algum dinheiro na poupança. Pensei: o que posso fazer? Pensei nas crianças da comunidade, em como era difícil descer para tudo, até para comprar um lápis. Decidi abrir uma pequena papelaria na varanda da minha casa. Trabalhei duro. Com o dinheiro que ganhava sustentava minha família. Aos poucos minha papelaria ficava conhecida e eu vendia mais. Procurava ter o melhor preço possível. As crianças não tinham muito. Ganhava meu dinheirinho, mas era sempre pouco e apertado. Mas como eu sabia o que elas precisavam e tinha um preço bom, comecei a prosperar. Nessa hora decidi colocar uma placa na porta: “Precisa-se de ajudante”. Disse para eles:
- Vocês precisam vir para a entrevista de emprego e me convencer a contrata-los.
O primeiro disse:
- Moço, sei que o senhor está procurando ajudante.... Que preciso de emprego. Minha mãe está doente, os remédios são caros... eu disse não.
O segundo disse:
- Eu tenho cinco filhos... minha mulher está gravida do sexto.... Não tenho como comprar comida. O senhor me dá esse emprego?
Eu disse não, infelizmente eu não poderia dar o emprego para ele.
O terceiro contou uma história pior, de doença e fome....
Eu disse não.
Então o menino disse: mas a senhora é ruim que é o cão, hein? O que eu preciso dizer para a senhora me dar o emprego?
- Que você é muito bom de matemática, pode me ajudar muito a melhorar o meu negócio. Seria melhor se você disse: - gostaria muito de trabalhar aqui. Sou muito bom de vendas. Tenho uma serie de ideias de como podemos crescer. Se eu conseguir fazer o seu negócio crescer, digamos, 50%, o senhor me dá uma sociedade?
Os meninos disseram: - Não, isso não pode dizer! O dono vai achar que você quer tirar vantagem dele!!!!
De onde veio essa crença? De que ser necessitado, dependente e sem ambições seria melhor do que ser capaz, altivo e propositivo? O que essa crença tem a ver com a falta de valor que o jovem dá para escola?
Ela vem de uma profunda visão de desigualdade e de que o interesse do pequeno empresário é diferente e oposto ao do seu funcionário. Essa crença está por trás da ideia de que trabalhar para ajudar o patrão a prosperar é uma forma de aceitar a própria exploração. É a visão de que numa sociedade de desiguais, em que para um ganhar outro tem que perder.
O pequeno empresário, se tivesse gasto seu dinheiro ao invés de investir, por medo do risco de fazê-lo, seria um igual. A coragem de correr riscos, trabalhar duro e tentar vencer parece colocá-lo em um outro lugar: no lugar dos fortes e poderosos que, por falta de escrúpulos, emprega alguém para enriquecer às suas custas. Ao não se ver como igual, o jovem não vê valor em unir forças e aproveitar que o outro acumulou algum dinheiro para partir de uma posição de maior vantagem em seu próprio esforço por empreender para construir algo melhor.
                A visão de igualdade o ajudaria a perceber que se o outro está buscando ajuda é porque há mais trabalho do que ele consegue fazer sozinho. De que para um pequeno empresário como esse em uma comunidade, não deve ser fácil sustentar a família e pagar as contas. E que mérito está em ajudar o outro a ganhar ajudando-o a gerar mais valor para as pessoas que são clientes do seu negócio, nesse caso as crianças da comunidade. E que o estudo ajuda nesse esforço de prosperidade. Que liberdade, nesse caso, é a capacidade de enxergar alternativas e fazer as melhores escolhas para si mesmo, pois a soma das melhores escolhas individuais produz resultados melhores para todos, colabora para que juntos todos se beneficiem do esforço de cada um.
                A visão de desigualdade faz com que o jovem ache que emprego é caridade. Que o empregador, já sobrecarregado com a tarefa de cuidar da própria família e do próprio negócio deveria dar emprego para alguém que colocaria mais peso sobre os seus ombros. Nesse contexto ele não consegue enxergar o valor da sua contribuição. E não consegue fazer as melhores escolhas. Ele não entende o que queremos dizer quando afirmamos que o indivíduo é o único gerador de riquezas. Que o livre mercado é a maneira mais fácil de fazê-lo prosperar. E de que todos se beneficiam quando ele usa o máximo das suas competências. Temos muito trabalho a fazer. Precisamos da sua inteligência e da sua vontade para estarmos melhor no futuro. E ele não sabe do valor que tem.
                Igualdade, liberdade e meritocracia pressupõe o esforço da subsidiariedade. Dessa capacidade de ajudar o outro a desvelar todo o seu potencial. Essa é a solidariedade que nos fará melhores. Se todos tentarem, será muito mais fácil cuidar de quem precisa. Eles serão em muito menor número e o conjunto dos cidadãos será muito mais prospero.









segunda-feira, 6 de abril de 2015

Dinheiro, O Crédito e a Informação: A Importância da Credibilidade da Informação para a Construção da Confiança no Mercado

O filósofo e sociólogo alemão Georg Simmel, no livro: Philosophy of Money (de 1907) afirma que o dinheiro se coloca entre o homem e o que ele quer como um elemento facilitador, por um lado, e, por outro, simboliza e corporifica o espírito da racionalidade, da calculabilidade e da impessoalidade do mundo contemporâneo, na forma como permite trocas infinitas.
O dinheiro pode ser visto pelo ponto de vista da ganância ou pode ser visto como um meio para a constante elevação da qualidade de vida sustentada no mundo. Por meio dele podemos radiografar nosso sistema de valorações de forma concreta e inconteste. Nesse sentido, o dinheiro pode ser visto e pensado como instrumento de esforços construtivos e esforços destrutivos, sendo que o papel do crédito no mercado pode reforçar os primeiros.
Dessa maneira, a concessão de crédito ajuda a promover o crescimento econômico e a prosperidade quando orientada por critérios de credibilidade baseado na boa reputação dos agentes econômicos. No lugar de atender interesses individuais e gerar perdas pela concentração equivocada de recursos e consequente a sua má utilização, a agência de análise de crédito estabelece critérios de troca baseado na confiabilidade percebida dos agentes, e passa a promover empreendimentos que beneficiam a boa gestão dos recursos confiados, os esforços da coletividade, a produtividade e a geração de empregos e riqueza.
A informação sobre o crédito é uma informação essencial para a promoção da prosperidade e desenvolvimento de um país, pois é uma das formas de evitar ou reduzir esses problemas de mercado, gerando as pré-condições necessárias para que as transações ocorram com mais segurança, reduzindo a probabilidade de perdas e prejuízos, e conferindo confiabilidade as instituições, as empresas e as pessoas que operam como atores econômicos.
Um dos maiores empecilhos para a construção de confiança no mercado é a dificuldade de acesso à informação, que permitiria a alocação correta dos recursos, gerando eficiência nos mercados. A chamada “falha de mercado” é muitas vezes gerada por uma assimetria de informações. A informação assimétrica é um fenômeno que ocorre quando dois ou mais agentes econômicos estabelecem entre si uma transação econômica com uma das partes envolvidas detendo informações (qualitativas ou quantitativas) superiores a da outra parte.
A informação assimétrica pode gerar basicamente três tipos de problema: seleção adversa, risco moral e herd behaviour (Comportamento de manada). O problema da seleção adversa ocorre quando os atores de mercado não possuem informações suficientes para realizar uma escolha melhor. O problema do risco moral ocorre quando o um agente passa a mudar o seu comportamento numa transação econômica. O problema do herd behaviour, conhecido também como “comportamento de manada” ocorre quando, na ausência de informações, um grupo de indivíduos passa a agir da mesma forma.
Esses problemas abordados pela economia ocorrem todos os dias pela falta de informação. A consequência geral desses problemas de informação assimétrica são falhas de coordenação e adaptação porque a informação necessária para determinar o melhor uso dos recursos e a adaptação apropriada não está disponível (Milgrom e Roberts, 1992). A falta de informação gera decisões equivocadas e a alocação equivocada de recursos, gerando prejuízos e perdas para as empresas, para os indivíduos em geral e para a economia do país como um todo. 
A credibilidade da informação é, portanto, essencial para incentivar que as transações econômicas ocorram e assim, promover a prosperidade. A informação sobre o crédito é uma informação essencial para a promoção da prosperidade e desenvolvimento de um país, pois é uma das formas de evitar ou reduzir esses problemas de mercado, gerando as pré-condições necessárias para que as transações ocorram com mais segurança, reduzindo a probabilidade de perdas e prejuízos, e conferindo confiabilidade as instituições, as empresas e as pessoas que operam como atores econômicos. Ou seja, a qualidade da informação é fundamental para gerar riqueza, conferir credibilidade ao sistema financeiro, criar reputações individuais e promover relações de confiança na sociedade. 

terça-feira, 3 de março de 2015

Ghandi, a cultura de saúde e segurança e nossa eterna complacência

Observo comportamentos. Por vício e profissão. Vejo a crescente irritação dos brasileiros com a ineficiência de nossos serviços, com a corrupção desenfreada de nossos políticos, com a dificuldade de desenvolvimento em diversos setores em nosso país. Ouço expressões como: brasileiro é assim, é porque o povo brasileiro age de tal maneira. Mas quem seriam esses brasileiros, que são assim, que atrapalham o desenvolvimento de nosso país? Ontem observando o comportamento das pessoas na chegada do avião ao Santos Dumont pensei: esses brasileiros somos nós. 

Todos nós, ao menos em teoria, compartilhamos a ideia de que a Saúde, Segurança e cuidado com o Meio Ambiente estão diretamente ligados à preservação da vida, e isso é valor para todos nós. Sabemos que qualquer meio de transporte tem riscos. Sabemos que o manuseio de combustíveis, fundamental para que o avião cumpra sua tarefa de transportar traz riscos.

Esperamos que as companhias aéreas sejam responsáveis com os procedimentos e padrões de segurança e que treine suas tripulações para zelar por elas. Estaremos prontos para atacá-los se não fizerem sua parte. Estamos prontos para gritar, xingar, acusar... Em suma: defender nossos “direitos”. E é então que acontece... O comandante pede: desliguem os celulares. Olho ao meu redor. A moça do meu lado finge que desliga. O rapaz do outro ignora e continua a escrever sua mensagem. A aeromoça (provavelmente exausta de pedir que se cumpra a ordem, porque é uma ordem, finge que não vê – já deve ter se estressado muito com a falta de educação desses indivíduos).

Há riscos? Claro. Ou alguém imagina que esse procedimento seja repetido em todos os voos porque o comandante não tem mais o que fazer? Na chegada, o comandante pede: não liguem os celulares até a chegada no saguão do aeroporto. Há risco? Claro. O mesmo que há nos postos de gasolina, onde há uma placa indicando que é proibido o uso de celular. Inúmeros acidentes sérios já aconteceram. As empresas ficam em uma posição terrível: precisam que os procedimentos sejam cumpridos, mas não podem causar pânico.

Várias pessoas têm medo de avião. Imagine o comandante explicando os riscos em detalhe para que todos se sensibilizem... Imagine o medo de alguém, mais sensível, ao imaginar que, havendo o risco, alguém não esteja cumprindo a recomendação e ele(a) possa ser atingido? Qual é o grau de segurança do sistema contra pequenas desobediências? Antes que o comandante termine de falar, vejo a enorme maioria dos passageiros ligando o celular e usando-os para mandar mensagens ou falar – em um flagrante desrespeito com a norma de segurança e com o comandante.

Em países onde as pessoas entendem, minimamente, que as regras são meios para um fim maior, nesse caso, preservar a segurança, tendem, na dúvida, a cumprir a recomendação. E o que nós fazemos? Descumprimos, desrespeitamos o comandante no exercício da sua função, afrontamos os comissários, porque estamos com pressa, precisamos falar, temos ataque de ansiedade descontrolada. Afinal, ninguém pode nos impedir de fazer o que queremos! É a prova da nossa incapacidade de agir orientados por valores. É a total dissociação entre valores e comportamento. Somos nós nos enganando e traindo a nós mesmos. Somos nós, incapazes de agir a altura do que esperamos que os outros façam. Somos nós, traindo nossos ideais de sociedade. Todos, cada um.

Então vemos que o Brasil tem taxas alarmantes de acidentes, de trabalho, de trânsito e domésticos. Muitos, mas muitos brasileiros morrem todos os anos em decorrência dessas falhas. De quem é a culpa? Fica mais fácil para nós colocar a culpa no outro. No governo, na autoridade, na empresa, nas instituições. Temos uma grande capacidade em nos desimplicar das coisas, das responsabilidades, das causas, das escolhas, das consequências dos nossos atos, das nossas ações e das nossas omissões. E nos indignamos, porque ninguém resolve as coisas por nós. Os acidentes acontecem e “as autoridades não fazem nada”. As “autoridades” estavam naquele avião.


Pessoas que muitas vezes se dizem preocupadas em resolver o problema da “cultura de segurança” em suas empresas, andam nesses aviões. Eu convido essas pessoas e todos os brasileiros a questionar: Quando começaremos a pensar sobre o nosso papel e nossa responsabilidade com a sociedade que queremos ter e viver? Eu quis falar – um alemão falaria – com o indivíduo do lado que coloca a segurança de todos em risco. Mas falar com quem, quando todos estão fazendo a mesma coisa? A falta de alinhamento entre as pessoas que se consideram de bem, que compartilham dos valores, e de disciplina pessoal para agir baseado em valores é tão grande, que quem fala é o chato, o louco, é mal educado, é aquele que se mete na vida dos outros. Então nos omitimos. E aí dá no que dá. Nos acidentes, na política, na vida... E no final do dia postamos, no facebook, uma linda frase de Mahatma Gandhi que diz: SEJA VOCÊ A MUDANÇA QUE QUER VER NO MUNDO. E mandamos para os outros.