Sobre a
proximidade, representatividade, diálogo e a justiça
Ontem
uma equipe do Novo foi à Vargem Grande, convidados pelo Sardinha, nosso
pré-candidato a vereador, para conversar com a Associação de Moradores. Havia
um incômodo com o PEU das Varges, um projeto criado pela prefeitura em
associação com a Odebrecht e a Queiroz Galvão em uma parceria público-privada
para a urbanização da região. Lemos sobre o projeto, vimos as reportagens sobre
o tema, lemos os projetos de lei envolvidos em sua regularização para irmos
preparados para a conversa. O projeto parecia muito bom. Restava a dúvida: por
que os moradores estavam incomodados com ele? Seria algum tipo de resistência à
mudança? Deveríamos, se ganharmos, dar continuidade a ele?
Para
nossa surpresa, a grande questão dos moradores não é com o projeto.... Até
acham interessante.... é com o fato, bastante absurdo, da prefeitura não ter
discutido o projeto com os moradores como prevê a lei e não ter preparado a
região para ganhar com ele. Ouvimos, negativamente surpresos, que até hoje as
diferentes administrações municipais não regularizaram a ocupação do solo e não
organizaram o mínimo necessário para dar segurança jurídica aos moradores. Não
fizeram o básico para que as pessoas possam regularizar a situação das suas
propriedades. Falando assim pode-se
pensar que estamos falando de invasões.... Não é o caso.... Pouca gente hoje
sabe que os cartórios no Brasil são da década de 1920 e que os registros de
propriedade, no passado, ou eram garantidos pelos usos e costumes, por
documentos de concessão estatal (como no caso das capitanias hereditárias),
haviam registros em igrejas ou eram conquistados na bala. Há ainda hoje no interior do Brasil inúmeras
disputas relativas aos direitos de propriedade sobre a terra. Ora, sem direito
de propriedade não há economia de mercado que funcione, há forte instabilidade
jurídica e uma grande fragilidade do cidadão para garantir o seu direito.
Em
Vargem Grande e Vargem Pequena alguns proprietários rurais fracionaram e
venderam pedaços das suas propriedades e nunca conseguiram legalizar por falta
de ordenamento da região, que é atribuição da prefeitura. A região foi se
urbanizando por fragmentação, como ocorreu na origem de todas as cidades do
mundo, sem que as administrações municipais se dignassem a ir lá para ordenar.
A Associação de Moradores afirma que os pedidos de ordenamento urbano da região
são tão antigos que não há memória de quando as solicitações começaram. Talvez
100 anos…. É impressionante como o discurso de modernização convive com
omissões dessa ordem. A função do Estado
na garantia dos contratos e do direito de propriedade é estrutural para todos
os outros acordos entre os indivíduos.
Imaginar que omissões dessa ordem existam dentro da região metropolitana
do Rio de Janeiro no século XXI é de estarrecer…. O que os moradores querem é
que a prefeitura faça a sua parte na emissão dos documentos necessários para
que eles possam fazer as escrituras das suas propriedades e tenham certeza de
que os projetos mirabolantes não passarão com tratores sobre suas casas sem que
tenham recursos para se defender.... É, no mínimo, justo! Feito isso, sentam-se na mesa para discutir
qualquer proposta para a região. Sem
segurança jurídica e garantia dos direitos de propriedade não há economia de
mercado!
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