segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Democracia, liberdade e interdependência dependem da nossa capacidade de dialogar. Seus inimigos são os que não dialogam.


Democracia, liberdade e interdependência dependem da nossa capacidade de dialogar. Seus inimigos são os que não dialogam.

Conta-se uma história, e já não sei quem conta e nem onde a ouvi, que um grupo de sábios, com os olhos vendados, tocavam um elefante com a mão e tentavam descreve-lo. Havia os que tocavam a tromba. Os que tocavam o rabo. Os que tocavam as pernas e outros que tocavam seu corpo pesado e gigantesco. Com venda nos olhos conseguiam enxergar, através da imaginação, apenas aquela parte em que as mãos alcançavam. Os que tocavam a tromba, o rabo e as pernas engajaram-se em fortes debates sobre a grossura do animal. O que tocava a tromba e o que tocava o rabo perceberam que tinham “visões de mundo” semelhantes. E criaram uma tribo. Aquele que tocava a perna, grossa o suficiente para não se confundir com a tromba e o rabo, mas fina o suficiente para não se confundir com o tronco, ficava perdido tentando compreender as diferenças que os dois outros grupos gritavam ser óbvias. Isolado no centro, hora concordava com um lado, hora concordava com o outro, mas via que as discordâncias eram de certa forma irreconciliáveis.
Penso nas minhas aulas de história na faculdade onde falávamos sobre quantos séculos o ser humano precisou conviver com a violência para reconhecer o valor da alteridade. Como foram longos e dolorosos os percursos intelectuais e filosóficos para que pudéssemos viver em paz com os vizinhos.... Milênios foram necessários para reconhecermos que o diferente não era bárbaro e não merecia nem a morte nem a escravidão. Que eram só diferentes e que, mesmo assim, as diferenças, se prestássemos atenção, eram muito menores do que as semelhanças.
Como os sábios que tocam o elefante não conseguiam perceber que eram humanos em condições muito semelhantes, vendo a partir de perspectivas diferentes uma mesma realidade.
Penso em quantos séculos e quantos sábios, educadores e filósofos foram necessários para nos alertar sobre o papel da razão, da perspectiva e das emoções na formação dos nossos modelos mentais. Todos humanos, com informação imperfeita, olhando o mundo por uma perspectiva limitada e fortemente movido pelas próprias emoções. Olho para nós mesmos hoje.... Como, movidos por emoções, facilmente optamos pelo caminho fácil da volatilidade emocional e parecemos dispostos a jogar toda essa história para fazer com que se imponha a nossa visão de mundo…. Muitos falam sobre o papel da liberdade. Concordo com isso. É difícil pensar na felicidade sem liberdade. Mas não há liberdade humana sem responsabilidade. As crianças e os loucos não são livres.  A liberdade é um longo exercício, que só se completa com a responsabilidade, o autocontrole e o cuidado com o impacto das suas ações na sociedade. Não é possível defender a liberdade sem a consciência do impacto do próprio papel e das próprias ações no comportamento dos outros. Não é possível defender a liberdade para si e não para todos. E não é possível defender a liberdade sem defender a lei. Não há liberdade no estado da natureza. Não há liberdade no caos. A liberdade é produto da interdependência, que ao mesmo tempo a limita e a possibilita. A liberdade humana é situada e é tão maior quanto mais responsáveis somos. Autonomia significa auto + nomos= a capacidade de dar a si mesmo a lei e participar na sua elaboração e evolução. Diálogo com empatia são fundamentais para isso. Controle das emoções, a busca pela razão e escuta ativa são o caminho. É óbvio. Mas não custa relembrar.


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